sábado, 11 de maio de 2013

A cruz.


A cruz.

Talvez fale nesse artigo o assunto que mais me intriga, a Cruz. Tenho nos últimos tempos feito inúmeras tentativas de transmitir o efeito desse objeto na vida do seres humanos, mas confesso não estar satisfeito com minhas transmissões nos cultos, e esse fato me fez escrever. Quem sabe com palavras consigo falar algo desse objeto tão ignorado nos dias de hoje, a Cruz.
Sinceramente nunca foi meu desejo intelectualizar a cruz, creio que esse não é o objetivo do Cristianismo, aliás, tenho dificuldade de sentir qualquer tipo de emoção em tudo que intelectualizo, dessa forma chego a belíssima conclusão que a morte de cruz de nosso Senhor não é nem intelectualizada e nem compreensível, é experimental.
Por isso encontramos em Mateus 10.38 uma pérola saída da boca de Cristo dizendo: “e quem não toma a sua cruz e não me segue não é digno de mim.”
As palavras pregadas por nós nos dias de hoje só ganham sentido se expressarmos o amor de Cristo crucificado, um amor que se revelou na própria carne, que naquele momento não tinha nada de redentor, pelo contrário esquecemos que Cristo enquanto homem sentia naquela hora dor, e muita dor, e não precisamos saber de psicologia para entender que dor não transmite nenhuma vontade de continuar, ao contrário, dor é a expressão máxima que nos leva a desistência. Mas Ele não desistiu.
Não existe nada mais degradante que a cruz na história Cristã, e o que mais me irrita é essa tentativa de justificar esse momento com os resultados e esquecer do fato. Não podemos reduzir o sofrimento ali sentido. Não podemos levar esse episódio para uma capa protetora, levando esse fato apenas para nossa mente. A cruz é dor.
A cruz tem que ser sentida no corpo todo. Na alma, no espírito e principalmente na carne. Quem ignora a cruz, ignora por completo o Cristianismo. Digo que é em vão que nos vangloriemos do triunfo da ressurreição sem antes trazer a realidade da crucificação e morte de Cristo em nós.
Quando justificamos a nossa salvação como preço na cruz, estamos tolerando um processo intolerável, e incompreensível, a cruz não tem explicação.
Temos que amar um Deus incompreensível, intocável em reputação e irresistível em seu Amor, porque Ele como homem morreu por nós, loucura, não foi por Ele, repito, foi por nós.
Ficamos tentando justificar e entender o amor de Deus por nós e cometemos loucuras  de tentar entender sua agonia e morte como homem, vejam bem, como homem. Não estamos falando de qualquer pessoa, estamos falando de um Deus chamado Emmanuel (Deus conosco), no meio de nós.
Talvez você não entenda a cruz pela transmissão e conotação que ela ganhou dos artistas plásticos idólatras, aquele homem seminu, tranqüilo e familiar pendurado num crucifixo na casa de vovó. As vezes até admiramos essa obras. Agostinho escrevia que quanto mais se fabricavam imagens de crucifixos, mais mineral e menos carnal se tornava o sacrifício de Cristo. A cruz não é mineral e nem normal.
Estamos esquecendo que de fato Cristo foi esculpido, mas por mãos de soldados romanos, sem nenhuma delicadeza e arte, os cravos foram martelados. A cruz é arte viva.
Nem precisaram de tinta. A cruz é sangue.
 Nem precisaram de artista expressionista. A cruz é arte, um show.
Apenas um tecido pintado havia em Sua cintura, com certeza o Sinédrio que acompanhava em peso com a multidão não permitiria indecência, nessa hora. O que ninguém pinta, nem esculpi, são as febres, os espasmos, as dores atrozes, a sede produzida pela febre, o enxame de moscas que envolviam o corpo atraídas pelo sangue, isso ninguém conseguiu reproduzir até hoje. A cruz é irreproduzível.
Depois de tudo, a morte. Era tradição que após da morte eram divididas as peças de roupas entre os soldados, sempre quatro soldados conforme  tradição, geralmente dividiam em quatro partes,sendo, manto, turbante, cinturão e sandálias. Mas com Jesus era diferente, João revela que a túnica era parte principal das vestes, e não tinha costura alguma, feita de um só tecido. Provavelmente confeccionada por Maria, ou um presente. Nenhum soldado queria renunciar ao direito da túnica, mas, se dividissem iriam destruí-la, portanto chegaram a esse acordo: “Não a rasguemos, mas lancemos sorte sobre ela, para ver de quem será.” Jo 19.24.
E assim se cumpriu o Salmo 22.18: “Repartem entre si minhas vestes e lançam sortes sobre a minha túnica.” A cruz é sorte. A cruz é ação social.
Na parte de cima da cruz, escrevia-se uma placa com o nome do pecado que levara aquele condenado a morte de cruz. O próprio Pilatos, como juiz supremo ditou a inscrição a ser posta na cruz de Jesus conforme Jo 19.19 “Jesus Nazareno, Reis dos Judeus” A cruz é nomeação.
O Sinédrio tentou revogar o título de Rei, sentindo eles humilhados com tal frase, e enviaram a Pilatos que alterasse conforme Jo.19.21 “Não escrevas, Rei dos Judeus, mas que ele disse: Sou Rei dos judeus.” Mas Pilatos respondeu com desprezo: “O que escrevi, escrevi.” Jo 19.22. A cruz é irrevogável.
Não bastasse, havia dois salteadores sediciosos ao lado de Cristo, em outras duas cruzes, cada um com a sua. Um o acusou zombando, e rapidamente outro respondeu :
 “ Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos os que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez”   Lc 23.40-41. A cruz é defesa.
Logo após o mesmo salteador suplica a Cristo: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino” Lc 23.42. A cruz é oração.
E Jesus aos pés da morte, venceu primeiro a morte do próximo: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” A cruz é perdão. A cruz é herança.
Não é possível o ser humano conciliar essa terrível angústia com a bem-aventurança que reinava na alma de Jesus, o ser humano só entende a vida por recompensas, o bom recebe o bem, e o ruim recebe o mau.
Definitivamente: A cruz é loucura para os doutores, mas é doutorado para os loucos!
Prefiro ser louco pela cruz.
...é um desabafo, mas cheio do Espírito.
...d.C. nunca mais o mesmo.


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