Seja um desamparado!
Tenho lido muito nos últimos tempos, e tenho achado soluções
e mais soluções nas cadeias teológicas e psicológicas no que diz respeito a
desamparo ou solidão. Autores dando soluções infalíveis como se só os
confortados e bem sucedidos, que são cristãos verdadeiros, e mais, afirmando
que um cristão não pode se sentir desamparado e ser mau sucedido. Será?
Não sou um monstro na teologia, muito menos na psicologia, sou acadêmico na
área de exatas, e talvez por isso não tenha a visão desses autores, mas cada
dia mais tenho exibido minha intrepidez no ramo da oração e relacionamento com
Deus, e me sinto feliz em dizer que não encontrei a solução e nem o sucesso
absoluto, e mais, fico feliz em saber que sou um desamparado. Você, leitor deve
estar se perguntando que loucura? Porque felicidade no desamparo? Simples,
entendo que só quem está desamparado pode realmente clamar, e o melhor, orar
buscando relacionamento com Deus o agradando..
E não só eu acho tal fato, o teólogo norueguês (monstro
acadêmico teológico) Olé
Hallesby considerava a palavra desamparo a que melhor
resumia a atitude do coração humano aceita por Deus no ato de oração.
A certeza do desamparo humano, é a maior ponte em um Deus
que deseja relacionar-se com o homem, que por sinal, convencido está da
dependência do amparo de Deus.
Não sou um “expert” em oração, mas isso me convence da
autoridade de escrever sobre o assunto, entendo que só quem busca pode falar de
algo e se tratando de oração, creio que nunca estarei nem próximo da perfeição,
pois se estiver deixarei o básico da pesquisa de campo, e relacionamento sem
experimento é vazio.
Alguns personagens na Bíblia tinham também essa idéia, que
deve ser difundida de forma mais eficaz, senão parecemos alienados em meio a
teologia que é divulgada hoje. Me parece quando leio livros principalmente de
autores como Max Lucado, Mike Murdock, enfim muitos outros, eles se esquecem
que falam para pessoas “comuns” que não possuem o mesmo tipo de ministério que
eles, se alienam em um mundo produzido na fábrica de pregadores e escritores
bem sucedidos, e entendem que escrevem só para eles, e acabam produzindo
poesias na maioria das vezes utópicas e que não condizem com a realidade do
público que as lêem. Público esse que possui sim o mesmo valor para Deus que
eles, que não são extra-terrestres “gospel”, mas precisam de uma literatura a
altura de suas realidades e nescessidades. Não estou criticando, e nem dizendo
que tais literaturas não são boas, mas são exclusivas para pessoas que querem
sucesso, prazer, desfrute, enquanto existem muitos que estão em busca do
verdadeiro relacionamento com Deus. Um relacionamento que a Bíblia não
estabelece apenas como sucesso, ou melhor, que apenas os bens sucedidos são
importantes para Deus. É fácil falar de Davi, Abrahão, Isaac, Jacob, Paulo, mas
nos esquecemos que pregamos para Enoque’s, Micaías, Abel’s, José’s de
Arimatéia, Eunucos, Cirineus, enfim pessoas sem grande exposição midiática, mas
que querem um verdadeiro relacionamento com Deus. E aí? Não há solução para
pobres mortais?
Claro que sim! Ao contrário do que divulgam, os que mais
agradam a Deus na história bíblica são os anônimos. Enoque é o maior exemplo
disso, agradou tanto. que Deus o tomou para Si, e não vejo na Palavra nenhuma
mega Igreja, nenhum grande sermão, apesar de amar a Jd 1.14 principalmente
quando se refere a justificação mediante um julgamento do Senhor, nada de extraordinário
aos olhos dos homens Enoque praticava, mas havia sim algo de fantástico com
Deus. Ele andava com Deus.
Me prendo as palavras do Evangelho de João quando diz: “Senhor , eis que está enfermo aquele que tu
amas” João 11.3, ele se referia a
Lázaro, quem? Lázaro? Profeta? Pastor de uma grande denominação? Pregador de
multidões? Grande escritor? Não! Pasmem, ele era “apenas” amigo de Deus, e João
escreve com muito carinho não se referindo a Lázaro como um grande líder, um
justo, um sujeito famoso, não. Quando a notícia a Jesus é relatada, diz: “aquele
que Tu amas”, o teu amigo. Veja bem, não por cargo ou por suas estatísticas
ministeriais Deus ressuscita Lázaro, não, o fato é que ele agradava e era amigo
de Deus.
O que mais intrigava não a Lázaro, mas o que estavam a volta
era, porque o amigo estava enfermo, qualquer um poderia estar enfermo, menos
aquele que mais agradava, repare bem que o estreito de relacionamento é tão
grande que até João, considerado o apóstolo do amor, e favorecido pelo
relacionamento com Cristo, se refere a Lázaro em seu Evangelho sem retirar
nenhuma palavra do diálogo como “aquele que Tu amas...”
Definitivamente, não precisamos de status, confio numa frase
ouvida da boca de Brennan Manning , que chegaremos ao céu e ouviremos: “ O
quanto você me amou?”
Quanto você me quis? Quanto se declarou desamparado e
dependente de mim?
O que nos move não é o estrelato, nossa estrela é Cristo! O
que nos faz melhores, não são nossas qualidades e sim nossa dependência de
Deus, o tanto que declaramos quanto precisamos d’Ele. Não seremos medidos, e
sim agraciados segundo nosso relacionamento.
E claro não poderia deixar de dizer: Lázaro fez o que em
toda essa história?
Nada! Morreu! Se entregou! Dependeu! E sem nenhuma palavra
saída de sua boca contribuiu para talvez depois de Cristo, a maior
transformação entre morte e vida das
escrituras.
Precisamos de dependermos mais.
Nossa maior contribuição para o Médico, são nossas
enfermidades!
É um desabafo, mas cheio do Espírito...
d.C nunca mais o mesmo.